segunda-feira, 23 de julho de 2012

O teu riso - Pablo Neruda


Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera , amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

2 comentários:

Betty Gaeta disse...

Oi Rô,
Adoro esta série de poemas românticos que o Neruda escreveu para a Matilde! Este é um dos mais bonitos deles.
Tenha uma ótima semana!
xoxo

SORTEIO DOS SONHOS
http://www.gosto-disto.com/2012/07/sorteio-dos-sonhos-dreams-giveway.html

Rosana Soares Brigagão disse...

Tbém adorooooo os poemas dele, tocam fundo nas nossas almas, tenha uma semana tranquila, Daisy nas minhas orações viu? Beijinhosssssssss